A pobreza menstrual afeta mulheres, meninas e pessoas que menstruam em todo o mundo. O acesso a produtos menstruais, espaços seguros e higiênicos para utilizá-los e o direito de administrar a menstruação sem vergonha ou estigma são essenciais para quem menstrua.
Mas para muitos, isso não é a realidade. Este não é apenas um risco potencial para a saúde: também pode significar que a educação das meninas, o bem-estar e, às vezes, vidas inteiras são afetadas. A pobreza menstrual não se refere apenas àquelas que não têm acesso a produtos menstruais,em alguns casos, o acesso limitado a esses produtos leva ao uso prolongado dos mesmos absorventes internos, facilitando a ocorrência de infecções.
A menstruação está intrinsecamente relacionada à dignidade humana, assim as provocações, a exclusão e a vergonha relacionadas com ela também comprometem o princípio da dignidade. Desigualdade de gênero, pobreza extrema, crises humanitárias e tradições prejudiciais podem transformar a menstruação em um período de privação, o que pode prejudicar o usufruto dos direitos humanos fundamentais.
Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos
Em maio de 2021, um relatório do UNFPA e do UNICEF traçou um panorama alarmante da realidade menstrual vivida por meninas brasileiras. Na publicação, relata-se que, considerando-se as estatísticas para a idade da primeira menstruação, quase 90% das meninas passam entre 3 a 7 anos da vida escolar menstruando. Para avaliar a experiência de menstruar na escola, foram observadas variáveis sobre a infraestrutura, como a presença de banheiros , presença de pias e lavatórios, disponibilidade de produtos voltados para higiene, além de dados sobre educação menstrual e as faltas por problemas menstruais.
Pobreza menstrual no Brasil: Desigualdades e violações de direitos, por UNFPA/UNICEF. Publicação de maio de 2021. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/relatorios/pobreza-menstrual-no-brasil-desigualdade-e-violacoes-de-direitos. Acesso em: Out. 2021.
Em casa, a situação pode ser ainda pior. São 713 mil meninas (4,61% do total) sem acesso a banheiros em seus domicílios e 88,7% delas, mais de 632 mil meninas vivem sem acesso a sequer um banheiro de uso comum no terreno ou propriedade. Ainda mais alarmante, as chances das meninas do Norte de não terem um banheiro de uso exclusivo dos moradores é de 33 vezes em relação às do Sudeste. Esses dados assustadores demonstram o tamanho do abismo social mesmo dentro do mesmo grupo etário e do mesmo sexo.
Segundo o relatório, quando vivenciada desde a infância, a pobreza menstrual pode resultar ainda em sofrimentos emocionais que dificultam o desenvolvimento de uma mulher adulta com seus potenciais plenamente explorados.
E como mudar essa situação?
Embora seja de obrigação estatal por meio da legislação, além de influenciar numa maior educação e compartilhamento de conhecimento, o setor privado e programas de caridade contribuem significativamente para a redução da pobreza menstrual em todo o mundo.
Em São Paulo, por exemplo, há um programa para a compra de absorventes a 1,3 milhões de estudantes entre 10 e 18 anos, com prioridade para quem está em vulnerabilidade. As prefeituras de Recife e Olinda já mantêm programas municipais de doação. Em Cuiabá, um projeto acaba de ser aprovado e mais estados caminham para iniciativas semelhantes.
Mas caso você sinta desejo de ajudar, há diversas ONGs, coletivos, comunidades e parcerias com empresas do setor privado para arrecadar doações de absorventes, coletores e calcinhas menstruais em todo o Brasil. Que tal encontrar uma que mais se adeque ao seu propósito e fazer a diferença na vida de milhares de meninas brasileiras?